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Publicado em 06/08/2013 às 2:28
Prezados,
É com grande satisfação que o Conselho Editorial da Captura Críptica retoma as atividades da revista e lança o edital de 2013!
Mais informações: edital.
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Captura Críptica – Diagnósptico: Catalepsia*
Publicado em 29/07/2013 às 19:51Tal qual “o touro mão de pau” que, perseguido por homens em seus cavalos, pulou de um rochedo pardo para ser morto, mas não desonrado, a Captura Críptica ia, de boa-fé, sendo pretensamente velada num lento e desgostoso Requiem.
No entanto, as quinhentas e sessenta e uma palavras entoadas entre o verso inaugural – Requiem æternam dona eis, Domine – do Introitus e o último verso do In Paradisum – æternam habeas requiem – , para além do tempo que é necessariamente dado ao silêncio para a formação da melodia, que dá corpo à música que rege a cerimônia para o descanso da alma do defunto, carregam em seu bojo uma benesse não pensada, um outro tempo: o tempo. Fossem antes cantadas rápidas Excelências, Benditas ou pueris Barquinhas de Ouro e então talvez já estivesse sepultada a Captura para a eternidade, sem nem mesmo ter a chance de ser salva pela Críptica do gongo.
Neste nosso caso, portanto, a longa Missa Defunctorun fez bem ao “Dispositivo–Profanação”, que foi percebida, talvez durante os últimos versos, por alguns poucos sujeitos que custavam a acreditar no serviço de Orcus, em movimentos vivificantes. O que antes era usado como metáfora para justificar a morte da Captura, tornou-se, num bom susto, só ruim para os alvos de sua Críptica, que escondiam sorrisos atrás de suas máscaras de tristeza, o ato da realidade da re-existência manifesta da arma a ser novamente usada pelos poucos infantes.
Captura Críptica: que talvez não irrompa ao céu como a Fênix, mas se levante aos poucos, modesta, com ajuda das mães e pais solteiras(os), nesta re-poligamia recíproca, com divórcios e relações extraconjugais, e mais novos filhos adotados reafirmando um manifesto.
Um Diagnósptico, todavia, a marcará para sempre: Catalepsia. Não a Projetiva, benéfica e natural, mas sim a Patoplógica, rara e que engana a morte para a morte. Seguindo estudos patognomônicos, combatamos uma vez outra as suas causas: doenças nervosas jurídicas, debilidade mental política, histeria das atualidades, intoxicações normativas e alcoolismos mitológicos.
De um Requien em latim
para um Requien for a dream
se levanta a Captura
antes do Críptico fim.
Os editores.
(*Texto de retomada dos trabalhos da Captura Críptica, que se encontrava sendo velada sob a metáfora da morte e agora se levanta sob a metáfora da catalepsia.)
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Um réquiem para a Captura Críptica
Publicado em 29/07/2013 às 19:51A dialética da vida e da morte nos coloca a pensar sua curiosa ironia. Tão interligadas estão as suas facetas que uma não pode ser sem a outra… do caos da vida à eterna busca pulsional pela ordem anterior, somente alcançável ao fim. Assim sendo,requiem aeternam dona eis, Domine. O nascimento de mais um número desta Captura Críptica pode carregar em si um conflito tão silenciosamente violento, que a exposição do verbo aqui contido possivelmente não é suficiente a expressar as fatais contradições aí contidas.
No ciclo de manutenção de uma existência, a renovação se faz pressuposta, sem a qual resta apenas o inevitável declínio. Ilustra-se via simples metáfora do ato de respirar: sem o inspirar de um ar renovado não se sustenta uma vida, mas se o refugo não for expirado, também inexiste espaço para a novidade – atos que jamais ocorrem simultaneamente e, em tal harmônica sincronia, a dor da primeira respiração somente é anestesiada com a paz da última golfada. Na ausência do suporte para o passo seguinte da crítica, o ambiente da cúria posta em gradação decadente somente consegue se travestir com a aparente novidade que busca esconder a mesma pequena parcela garantidamente decrépita. Ao tentar eternizar um passado renovador, reproduz apenas a mesma e embolorada conservação – o novo permanece externo e o velho apodrece do lado de dentro; em uma concordância de números discordantes, o plural se faz singular.
O óbolo permanece nas mãos dos operadores dos mecanismos de acumulação. Se não pudermos arcar com a tarifa exigida pelo trânsito sobre as águas do Estige, melhor recorrer a Osíris para nos auxilie ao longo do Nilo e sem o auxílio de qualquer livro, encaramos os desafios no curso do Tuat. Trata-se do fardo carregado pela raça divinizada na origem como base de uma curiosa cultura, que há séculos mutila a mesma carne de seus antepassados ora escravizados e reúne, com o custo dessas vidas, o conforto aparentemente eterno. Somente Caronte seria capaz de aceitar tão vil pagamento de seus iguais. Da mesma forma contraditória, são aptos a encarar sacrifícios humanos a deuses alheios com o mais virtuoso dos choques – tão mais agradável imolar essas criaturas ao palpável ídolo dourado que simboliza o deus valor.
Nada disso altera o caminho que percorremos – simbiose passada e presente. Do nascimento do novo, somente a criatura latino-americana poderia, sem rosto, buscar romper a máscara, para expor nossa situação atual – nem Próspero, nem Calibã. É simultaneamente Martín Fierro e Macunaíma, ora na luta da linha de produção (carregando a transformação de suas condições, bem como a reprodução de sua situação), ora como desocupado, símbolo do silêncio que diz mais do que qualquer palavra e conserva em si uma explosiva potência revolucionária. Sem benção ou perdão, a marca deixada pelo p na crítica será constituída em um críptico epitáfio…
Palavras, nada mais do que palavras, serão somente palavras. A crise de uma manifestação escrita que percebe suas limitações e insiste nessa conflituosa permanência. Seria tão simples se o resultado apresentado não fosse fruto de uma fértil práxis, no contexto de um estéril ambiente, nas lutas contra o pior de todos os inimigos – aquele que não existe. Em meio a compromissos assumidos e não cumpridos, expectativas criadas e frustrações suportadas, algo foi feito para chegar a um resultado, isto é, ação e produto do trabalho. Nesse sentido, Captura Críptica é filha de mães e pais solteiras(os) em uma poligamia recíproca, com divórcios e relações extraconjugais, incapaz de ser descrita por qualquer criação moderna. Na discordância de números concordantes, o singular se faz plural.
Nesse(a) amálgama, o conjunto de diferenças enfraquece os laços e, em meio à enxurrada de experiências, a união amadurecida se torna mais rígida. Ao contrário do que verbaliza o filósofo niilista, aquilo que nos mata, faz-nos mais fortes. Quiçá, é no momento deste réquiem que temos mais força, afinal, no ponto em que a fênix irrompe, têm suas cinzas a possibilidade de origem de um novo ser… ou pode simplesmente definhar e apagar permanentemente, como fogo em palha. No entanto, a verificação se dará com o critério de verdade. Até então, pode-se saudar este hiato, sem coro ou a companhia de anjos, muito menos com uma recepção feita por mártires, pois não se deseja o paraíso moderno. Porém, se necessário, aeternam habeas requiem.
Os editores.